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China quer travar a aceleração selvagem dos elétricos

Autor auto.pub | Publicado em: 13.11.2025

A China abriu um debate público que pode virar do avesso a lógica da indústria automóvel moderna. A proposta é quase sensata: nenhum carro deveria atingir os 100 km/h em menos de cinco segundos. Responsáveis pela segurança nacional defendem que a medida reduziria a gravidade dos acidentes e incentivaria hábitos de condução mais racionais. Para alguns entusiastas, soa como um balde de água fria.

Os tempos de aceleração vendem carros. Até o estagiário mais inexperiente de marketing sabe disso. Mas o ministério chinês vê aqui um risco crescente. A proposta não exige motores mais fracos. O limite aplica-se à configuração de fábrica: os construtores teriam de instalar um limitador eletrónico que impeça o carro de chegar aos 100 km/h em menos de cinco segundos. A potência total continuaria disponível, mas só após passos deliberados do condutor.

É uma abordagem típica do estilo chinês. O poder mantém-se, mas o Estado quer garantir que ninguém o liberta ao acaso.

Software para evitar confusões com os pedais

A próxima mudança ataca uma causa clássica de pequenos acidentes: condutores que carregam no acelerador em vez do travão. Pequim quer tornar obrigatório um software preventivo, capaz de bloquear acelerações bruscas quando o carro está parado ou quase imóvel.

Muitos fabricantes já testaram soluções semelhantes, mas a China pretende torná-las obrigatórias. Menos erros, menos idas à oficina.

Regras técnicas para modelos elétricos

Nos elétricos, as exigências são ainda mais detalhadas. Todos os carros elétricos de produção em massa teriam de cortar imediatamente a energia da bateria após detetar um impacto externo, com um tempo de reação esperado de cerca de 150 milissegundos. O carro também teria de alertar o condutor se alguma célula da bateria apresentar comportamentos anómalos.

Os sistemas de infoentretenimento também não escapam ao novo regime. As imagens de vídeo terão de desaparecer do ecrã assim que o carro ultrapasse os dez quilómetros por hora. A China não quer condutores a ver desenhos animados no trânsito.

As autoridades ainda não anunciaram quando as novas regras entrarão em vigor. Um indício surge no mesmo pacote de consulta, que inclui uma norma para puxadores de portas retráteis prevista para 2027. É sinal de que o Estado está a atualizar a fundo o seu caderno técnico.

Uma tendência global contra o excesso de performance

A iniciativa chinesa encaixa numa tendência mais ampla. Governos de todo o mundo procuram formas de travar a explosiva performance dos elétricos modernos. A Europa debate limites há anos, mas ninguém teve coragem de os impor. A China não hesita: vai direta ao cerne da tecnologia. Se as regras avançarem, vão mexer nas estratégias de exportação. Os fabricantes teriam de criar duas configurações, uma para o mercado interno e outra para o exterior. A China passa de maior produtora a definidora de tendências.

Todo este plano deixa uma pergunta incómoda para a indústria: valerá mesmo a pena continuar a cortar décimos de segundo? Os construtores vão debater o tema durante muito tempo.