
































SWM G03: SUV de sete lugares por €18.000 — Pechincha ou Piada?
Se alguém disser que comprou um SUV de sete lugares, zero quilômetro, por menos de €18.000, sua primeira reação provavelmente será: "Em quanto tempo ele desmonta?" Mas não estamos falando de uma van duvidosa do Leste Europeu. O papo é sobre o SWM G03, vendido oficialmente na Europa, um carro que poderia ser chamado de "mais carro pelo menor preço", mesmo que luxo aqui seja só palavra de dicionário. Para entender o G03, é preciso conhecer sua origem. A SWM começou como uma marca italiana de motos, resgatada da falência em 2016 pelo grupo chinês Shineray. Num típico arranjo global, o design nasce em Milão, a montagem acontece em Chongqing, e o resultado cruza estradas espanholas com um preço que deixa os vendedores da Dacia preocupados. As motos ainda fazem parte da história.
O G03 é o mais simples, básico e honesto dos três modelos da SWM vendidos na Europa. Honesto não porque sempre se comporte, mas porque não tenta ser o que não é. Não promete ser premium, esportivo ou supertecnológico. É um carro que deixa claro, logo de cara: "Não vou te dar massagem, mas seus cinco filhos e as bicicletas deles cabem aqui, e ainda sobra dinheiro para gasolina." O importante não é como as crianças chegam ao destino, mas sim que continuam em número igual ao da partida.
Em tamanho, o G03 compete com o Volkswagen Tiguan, mas ninguém enviou à SWM o manual do "refinamento europeu": o carro é puro bloco. Com 1,83 metro de altura, dá pra sentar quase de costas retas. O entre-eixos é maior que o de algumas minivans, e o preço parte de menos de €18.000 para sete lugares — desde que ninguém ali seja lutador de sumô.
O preço é o truque principal. O G03 custa menos que o pacote de opcionais de alguns rivais. Seja Toyota, Hyundai ou Ford, não há sete lugares por esse valor. Claro, isso significa que a SWM não gastou com suspensão sofisticada ou tela de 15 polegadas que lê horóscopo. Isso é ruim? Não para quem só precisa de um carro espaçoso, confiável e barato, e não de um mordomo digital sobre rodas.
O SWM G03 não é o melhor em nada, mas é suficiente em muita coisa — e às vezes, isso basta. Nem toda família busca um carro que estaciona sozinho ou fala coreano. Algumas só querem levar todo mundo até a escola e colocar as compras no porta-malas sem precisar financiar a casa.
Com valor menor que o de algumas scooters elétricas, vale olhar de perto o que há dentro desse carro de design italiano e montagem chinesa. Milagre econômico ou só um compromisso disfarçado?
O G03 parece ter sido desenhado com régua em papel branco. Esqueça linhas fluidas e formas orgânicas — aqui é função em forma de retângulo. Como uma cômoda simples: espaçosa, direta e custa um terço das concorrentes "de marca". As proporções são verticais, como se os designers tivessem ficado sem espaço e subido no papel. Curiosamente, funciona, especialmente numa época de tetos caídos. O G03 é alto e reto, como uma caixa que sempre quis ser caixa.
Na frente, o carro ostenta uma grade gigante, típica de bravura chinesa, quase pronta para um churrasco de família. O padrão colmeia e o logo SWM chamam atenção — pelo menos desviam o olhar da simplicidade geral.
Há também senso de humor no visual. Os faróis são halógenos comuns, com lente azul, torcendo para serem confundidos com xenônio. É como colar etiqueta Hugo Boss num terno barato — pode enganar de longe. É um barato assumido, sem vergonha de ser simples.
De lado, o perfil é o clássico de caixa: carroceria alta, janelas retas, barras de teto (de alumínio de verdade, prontas para bagageiro ou bicicletas). As janelas são grandes, quase de estufa. Com 1,83 m de altura, só o Land Rover Discovery Sport supera no segmento. O G03 tem postura de SUV raiz, mais próximo do Toyota Land Cruiser do que de um Kia Sportage.
A traseira segue o mesmo conceito: reta, quase inocente. O porta-malas grande sugere que cabe mais que sacolas e carrinho de bebê — bagagem de família, até um cachorro grande. As rodas de liga leve de 17 polegadas preenchem bem, sem exigir pneus caros.
Se o exterior sugere utilidade, o interior confirma. Ao abrir a porta, um barulho metálico pesado, tipo geladeira antiga, e lá dentro: plástico. Muito plástico. Mas não do tipo quebradiço, e sim duro e resistente. Se algo range, provavelmente são seus filhos mexendo em tudo.
O acabamento surpreende pelo preço. Nada de saídas de ar cromadas ou porta-copos iluminados, mas os botões funcionam e os comandos cumprem o que prometem — sem firulas desnecessárias.
O que chama a atenção, num sete lugares tão barato, é o arranjo dos bancos. Em vez do tradicional banco inteiro na segunda fileira, há duas poltronas individuais — não chega a ser executiva, mas são separadas, ajustáveis e confortáveis. Podem deslizar, com cerca de 11 cm de ajuste de espaço para as pernas até a terceira fileira. Esta última, na prática, é mais "esperança" que assento de verdade — há três cintos, mas só cabem dois pequenos ou um adulto que vai reclamar depois.
Os números do porta-malas confirmam: 1.564 litros com bancos rebatidos. Com todos os assentos, esqueça mala — só cabem sacolas pequenas. Carrinho de bebê? Só desmontando e brincando de Tetris. Realidade parecida com outros sete lugares compactos, e a SWM não esconde isso.
Na frente, tudo analógico: mostradores clássicos e uma telinha de 3,5 polegadas — nada de paineis digitais ou animações. Mas você vê combustível, quilometragem e portas abertas. O que não tem, provavelmente nem faria falta.
O console central traz uma tela sensível ao toque de 7 polegadas. Não é referência em tecnologia, mas cumpre: GPS, câmera de ré, Android Auto e Apple CarPlay. Dá para usar Spotify e Waze sem improviso. Muitos carros caros podiam aprender com isso. O som é retrô — lembra toca-fitas dos anos 90, com qualidade à altura. No volume alto, tudo se mistura, como Haddaway cantando dinamarquês sem dentes.
O ar-condicionado é manual — um botão giratório, nada digital. Mas todos os vidros são elétricos, ninguém precisa girar manivela atrás. E, como mimo, há teto solar elétrico de vidro.
Os bancos são revestidos em "eco-couro", nome bonito para couro sintético, mas que parece melhor que tecido básico e é fácil de limpar — ótimo para famílias com crianças e pets.
Entrar é fácil. A carroceria alta e portas grandes facilitam, seja para avós ou para crianças agitadas. A ergonomia é boa: tudo à mão, botões grandes, comandos lógicos. Não precisa tutorial no YouTube para ligar o ventilador.
Esperando tecnologia revolucionária no motor? Pode esquecer. É o velho conhecido: quatro cilindros, 1.5 aspirado, 110 cv e 155 Nm de torque — mal impressiona uma scooter elétrica. Se fosse bicho, seria um burro: não corre, mas faz o serviço. De 0 a 100 km/h? Uns 13 segundos com carro vazio; com sete pessoas e bagagem, vai no ritmo do vovô indo à feira.
O câmbio é manual de cinco marchas. Em 2024, soa tão moderno quanto tirar foto com celular de botão, mas é leve e preciso — lembra Lada antigo, só que sem tranco metálico. Em viagem, o giro sobe e a cabine vira aspirador em potência máxima. A 130 km/h, o motor implora por sexta marcha ou uma pausa.
A suspensão surpreende: macia, quase confortável. Se a rua parece calçamento, o G03 passa flutuando. Nas curvas, claro, inclina como urso bêbado, mas nada inesperado. Não é esportivo, é feito para levar filhos e melancia sem pressa.
Feedback da direção? Mais sugestão que conversa. Você sente que as rodas viram, mas o retorno é impessoal, tipo robô de call center. Para quem só anda em zona de 50 km/h, mercadinho e cidade, não faz falta.
Consumo? Oficialmente, 7,2 l/100 km — alto para o que entrega. Com esse número, esperaria tração integral e 180 cv, mas não. O G03 é sedento. Dá para fazer 7 l/100 km andando leve, mas cheio e acelerando, chega fácil nos 8 ou 9 litros. Se mora na Alemanha e ama Autobahn, pense no GNV.
A SWM oferece o G03F, versão a gás em alguns mercados, com sistema instalado de fábrica. Mesmo motor, roda a gasolina ou GNV. Perde só um cavalo, mas o bolso agradece. O tanque de gás rouba espaço do porta-malas, mas a economia e as emissões menores compensam.
E tem mais: existe o G03 híbrido. Igual ao Nissan e-Power — motor a combustão só gera energia pro elétrico. O nome, SuperHybrid, é pomposo, mas entrega condução elétrica, 150 cv, baterias BYD Blade e silêncio total. Sai suave, liga o gerador quando precisa. Autonomia de 1.000 km por tanque? Nada mal, mas o preço pula para quase €29.000, outra categoria.
Em segurança, o G03 é como reserva machucado: não joga. A economia pesa. Por fora parece tanque, mas por dentro, sobrevivência básica.
Airbags? Só dois. Não são quatro, nem seis — motorista e passageiro. Laterais? Cortina? Esqueça. Quem vai atrás é passageiro de terceira classe. Até o Dacia mais barato oferece seis bolsas. O G03 parece carro de 2003, e não no bom sentido.
Sistemas de segurança? Nada além do exigido pela lei: ABS, controle de tração, ESP e assistente de partida em rampa. Freio automático, alerta de faixa, monitor de ponto cego? Procure outro.
Pontos positivos: sensores de estacionamento e piloto automático simples. A posição alta ajuda na visibilidade e pode evitar acidentes, e a dianteira grande talvez ajude contra carros pequenos, mas não conte com milagres.
O grande mistério: o G03 nunca foi testado pelo Euro NCAP. Ninguém sabe como reage num acidente. Esse é o maior risco. Se você gosta de emoção, vá em frente. Se segurança familiar é prioridade, pense bem.
Outro ponto: a SWM é praticamente desconhecida na Europa. Se der problema, peças e assistência podem dar dor de cabeça, bem diferente de um Volkswagen.
O SWM G03 é como roupa de marca barata: veste bem, esquenta e não pesa no bolso. O principal: é SUV de sete lugares, de verdade, por cerca de €18.000. Na história automobilística europeia, é coisa rara — daquelas que parece erro de digitação.
A maior surpresa é o custo-benefício do espaço. Você leva um carro novinho, grandalhão, com sete lugares (no papel), acesso sem chave, Apple CarPlay, teto solar e bancos tipo couro. É como comprar notebook barato e descobrir que até edita foto e renderiza vídeo — devagar, mas faz.
O G03 é para quem sabe o que quer: muito espaço, pouco gasto e zero luxo. É etiqueta de preço sobre rodas. Frente ao Dacia Jogger, não chega ao nível de segurança, mas entrega mais espaço para cabeça, arranjo interno diferente e preço ainda menor.
Claro, nem tudo são flores. Só dois airbags e lista de segurança mais curta que horário de verão podem assustar até o comprador mais otimista. Vai envelhecer bem? Revenda? Alguém ainda lembrará do nome SWM em cinco anos, quanto mais pronunciar?
Mas olhe por outro ângulo: o G03 pode ser o primeiro carro de muita gente — o primeiro sete lugares, a primeira chance de ter um veículo próprio, sem leasing ou dor de cabeça. Não é feito para quem quer status, e sim para quem busca solução. Espaço grande, preço baixo — fórmula antiga, só mudam os nomes.
Curiosidade: cada assento do G03 custa menos de €2.600. Menos que uma semana de férias para muitos, mas aqui a viagem dura muito mais.
Enfim, o SWM G03 é como cerveja em lata boa: não é champanhe, mas mata a sede. Não vai vencer corridas ou testes de laboratório, mas cumpre o papel. Se quer um carro que não finge, mas existe; se espaço importa mais que luz ambiente; e se você quer seu dinheiro bem investido, fique de olho no SWM G03. Porque, sinceramente, se ainda existe pechincha verdadeira no mercado europeu, é essa caixa de sete lugares ítalo-chinesa com dois airbags.