Israel Retira Carros Chineses do Exército por Temor de Espionagem
Os carros chineses saíram pelos portões das bases militares israelitas, mas não voltarão a entrar. Oficiais que até há pouco circulavam em volumosos Chery de sete lugares têm agora de os devolver. O motivo não é um motor barulhento nem uma caixa de velocidades cansada, mas sim a conclusão de peritos em inteligência: estes veículos podem estar a escutar.
Especialistas em cibersegurança já alertavam há algum tempo: o automóvel moderno comporta-se como um smartphone sobre rodas. Câmaras vigiam, microfones escutam e a telemetria envia dados para onde os engenheiros decidirem. Numa carrinha familiar, isto pode parecer inofensivo. Mas ponha um oficial ao volante, com acesso a informação sensível, e o risco passa a ser estratégico.
O exército israelita tentou primeiro medidas suaves. Bloqueou carros que recorriam a servidores chineses e ponderou até uma "esterilização" de software para impedir a transmissão de dados. A solução revelou-se impraticável e confusa. No fim, optou-se pela via mais limpa: afastar os carros chineses, mesmo que fossem novos e reluzentes.
Do Chery Tiggo 8 ao Mitsubishi Outlander
O Chery Tiggo 8, SUV familiar de sete lugares, tornou-se suspeito improvável. Hoje, muitos destes veículos estão parados num parque, enquanto se recolhem as chaves e se entregam Mitsubishi Outlander fabricados no Japão como substitutos. Os lugares vazios depressa se preenchem e a frota não ficará desfalcada por muito tempo.
Alguns oficiais aceitaram a troca com naturalidade. Outros sentiram-se como crianças a quem tiram um brinquedo, porque, como disse um deles, "pode estar a falar com estranhos". O exército israelita não brinca quando o tema é inteligência e dados.
Uma recolha gradual e discreta
O processo começou quase sem se dar por ele. As bases proibiram primeiro a entrada de carros chineses. Seguiram-se investigações para perceber quem usava estes veículos e com que frequência circulavam em zonas sensíveis. Quando o retrato ficou claro, iniciou-se a recolha.
Até ao Natal, a maioria destes carros deverá desaparecer da frota militar. Novos veículos, de origem verificada, entrarão ao serviço no início de 2026. Todo o sistema avança, de forma discreta mas determinada, para um cenário em que nenhum botão ou sensor envia informação para lá do controlo do condutor.
Questões maiores para qualquer proprietário
Se Israel, país de referência em cibersegurança e vigilância, não confia plenamente nesta nova geração de automóveis, como deve sentir-se o consumidor europeu comum? O carro deixou de ser apenas transporte. É agora um protótipo de centro de dados ambulante.
Quando uma autoridade militar fala em espionagem, não significa que todos os carros chineses gravem conversas confidenciais. Mas o risco existe. Cada sensor, cada sistema ligado, cada atualização automática exige resposta clara à pergunta: quem controla isto? Se não houver resposta, a opção mais simples é a mais segura. Desligar tudo e devolver as chaves.
A verdadeira ironia da decisão israelita está aqui. Um exército que normalmente confia na melhor inteligência e tecnologia de ponta prefere agora uma máquina que faz menos, não mais. Por vezes, o veículo mais seguro é mesmo aquele que não diz nada.